Introdução
O que está diante dos olhos da igreja, atraindo
seu olhar e levando-a a reagir? E em que está sendo transformado o
objeto do foco como um reconhecimento visual?
Não sei se ainda se usam nos consultórios dos
psicólogos aquelas figuras enigmáticas que são dadas aos pacientes para
que respondam o que veem nelas! Fato é, que, cada paciente dá uma resposta
diferente sobre o que vê!
Diante dos olhos da igreja estão as figuras
nas mais variadas formas. Deus deu a ela a capacidade da
identificação. A primeira figura mostra o campo de batalha; a segunda mostra os
inimigos; a terceira mostra as estratégias de cada um, e por fim, os objetivos.
Reconhecer, a partir do campo visual é o grande desafio da igreja, para que
direcione as armas e atinja o verdadeiro inimigo.
Fazendo um paralelismo.
No livro de Jeremias, lemos que Deus, no
primeiro capítulo lhe dá duas visões e pergunta: O que vês, Jeremias? Vejo uma
vara de amendoeira; vejo uma panela virada para o norte. De ambas as visões,
foi o próprio Deus quem deu a interpretação daquilo que queria mostrar ao
profeta. Numa terra tão polarizada à base de tantas ideias e diferenças, se
pedíssemos para Deus olhar para nós e responder o que Ele vê, penso que sua
resposta seria: Vejo os homens! Vejo-os empreendendo muitas coisas! Comprando,
vendendo, construído, modificando, alegrando-se, plantando e colhendo! Vejo
homens pecadores que necessitam da minha glória, sendo justificados
gratuitamente por minha graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus
(Romanos 3).
Deus ama sua criação e quer salvá-la, por isso
proveu um sacrifício para a salvação de TODO aquele que crer. O homem, na
contrapartida ao que Deus já fez selecionou por seus próprios padrões de
justiça aqueles que, no seu julgamento, podem ser salvos. Assim, temos hoje
centenas de tribunais “cristãos” no seio da igreja. Deus nos mostrou um único
opositor; mas o homem “caracterizou” o opositor internamente e passou a lutar
contra si mesmo; contra aqueles (seus irmãos) que não se enquadram nos “novos” padrões
de justiça. Deus disse a Isaías: “Meus pensamentos não são os vossos; meus
caminhos não são os vossos” (Isaías 55)
A ótica do homem e o desejo de Deus
Cornélio era um centurião romano. Quem
conhece a narrativa de Atos 10 sabe o desenrolar dos fatos até o momento que
alguém diz a Pedro: “Entraste na casa de incircuncisos e comeste com eles”
(Atos 11). Cornélio esteve primeiramente “sob a régua de Pedro”; Pedro, tendo
se rendido à vontade de Deus, venceu os preconceitos judeus obedecendo ao
que Deus queria fazer (mas antes disso, ele tentou negociar para não “pisar em
solo romano”). O resultado foi a conversão, o batismo, a descida do
Espirito Santo sobre a família e amigos chegados de Cornélio. Mas logo em
seguida foi a vez de Pedro se ver diante da “régua” e sobre a balança de seus
compatriotas, pelos mesmos motivos.
Quem conhece Lucas 9 também entende a
narrativa. Primeiramente Jesus flagrou os discípulos numa enquete: “Quem
dentre eles seria o maior”. Em seguida, a palavra deles foi: “Mestre, vimos certo homem que
em seu nome expelia demônios, mas nós o proibimos porque não anda conosco”
Próximo a esse texto temos outro em que alguns
falavam a Jesus a respeito dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os
sacrifícios que os mesmos realizavam! Esse comentário parecia convencer Jesus
de que tais homens eram mais pecadores do que outros. Quem seria pior: Pilatos
ou os galileus? Jesus os surpreendeu ao dizer: “Se, porém, não vos arrependerdes,
todos igualmente perecereis”.
Depois Jesus os faz lembrar de uma tragédia do
passado: A torre de Siloé que caiu sobre 18 homens... Jesus perguntou: “São
esses 18 mais pecadores do que todos os outros que habitam em Jerusalém?” ...Se
não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis! (Lucas 13).
Antes de ser chamado para ser um dos doze
discípulos, Mateus era um judeu funcionário do governo romano. Zaqueu era um
publicano chefe; e rico! Quando ele se converte sinceramente ao Senhor, ele não
muda de ofício; mas corrige os males que praticou no oficio.
Próximo ao dia de sua morte, Jesus decide ir a
Jerusalém. Antes disso, ele envia mensageiros que o antecedessem. Passando eles
por uma aldeia de Samaritanos, foram rejeitados por esses. Ao ouvirem isso, os discípulos Tiago e João (os intempestivos filhos
do trovão) perguntam: “Senhor, queres que mandemos fogo do céu para consumi-los?”
Essa era visão que muitos ainda alimentam sobre Jesus – Fogo destruidor aos
oponentes! Embora, quase sempre quem classificou o oponente foi o homem e não
Jesus (é a guerra santa) Jesus responde: “Vós não sabeis de que espirito sois!”
(Lucas 9).
Poderia citar ainda outras narrativas que
mostram quão facilmente o homem sai da comunhão que Deus deseja desfrutar com
os seus. O homem pode ainda estar vendo constantemente “as arvores” (Marcos 8)
em vez de ver outros (seus iguais) homens. Quando Deus quiser nos mostrar
“arvores”, ele nos colocará diante delas, bem verdes, inconfundíveis. E quando
quiser nos mostrar os homens, ele nos mostrará os homens que não tem galhos nem
folhas. Se nossa visão está turva, Ele se prontifica a nos revelar o que está
diante dos nossos olhos.
Deus só vê uma linha divisória no meio dos
homens: A linha do arrependimento! De um lado os redimidos; de outro lado, os
pecadores.
Quando cristãos impõe tropeços ao avanço da
igreja; denegrindo a própria imagem diante dos gregos (gentios) e demonizando
os gentios (gregos) diante dos judeus, estão fechando suas portas para tais
grupos.
“Portai-vos de modo que não deis escândalo
nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo
agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que
assim se possam salvar” (Coríntios 10)
Paulo falou ao povo gentio
...Noutro tempo estáveis sem Cristo; separados
da comunidade de Israel; estranhos as alianças da promessa; sem esperança e sem
Deus no mundo. (Efésios 2) Mas pelo sangue de Jesus; esse status muda. Então
Paulo denomina essa divisão entre gentios e os judeus como inimizade. Tal qual
a “inimizade” separa gentios e judeus; o pecado separa de Deus todos os
homens, sem distinção.
Jesus, pelo derramar do seu sangue coloca todos
os redimidos num só corpo, a igreja do Deus Vivo, Deus de toda a verdade. (Efésios
2). Paulo desejou que “diligentemente se esforçassem por preservar a unidade do
Espirito e o vínculo da paz.
Porquanto há um só Deus e Pai de todos,
o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
Quem são “todos”? São todos os redimidos, de qualquer origem! Há um só corpo (a
igreja – que é um organismo e não uma organização denominacional). Um só
Espirito; Uma só esperança; Um só Senhor; Uma só fé; Um só batismo. Depois
Paulo chama os gentios redimidos de coerdeiros com os judeus. Herdeiros das
promessas feitas a Abraão. (Efésios 3)
Paulo falou ao povo judeu
E falou sobre o povo judeu: Pertence-lhes a
adoção; a gloria; as alianças; a lei; o culto (os cerimoniais) e as promessas.
Deles são os patriarcas e deles descende o Cristo.
Mas diz que “...nem todos os de Israel são de
fato israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos seus filhos”
Então prossegue: “...a boa vontade do meu
coração a minha suplica a Deus a favor deles é para que sejam salvos. Porquanto
desconhecendo a justiça de Deus, e estabelecendo sua própria justiça, não se
sujeitaram à que vem de Deus. Porque a finalidade da lei (o objetivo único) é conduzi-lo
a Cristo para justiça de todo aquele que crê. (Romanos 10 e Gálatas 3).
...pois todos são filhos de Deus (unicamente)
mediante a fé em Cristo Jesus porquanto todos vós que fostes batizados em
Cristo, de Cristo vos revestistes (assumindo uma nova imagem – a imagem de
Deus). Dessarte, não pode haver JUDEU, nem GREGO (gentio), nem escravo, nem
livre, nem homem, nem mulher, pois todos sois um (corpo) em Cristo Jesus. (Gálatas
3).
Tal como o pecado separa de Deus, gregos e
judeus, Cristo une todos a Deus num só corpo. (esse é o ministério da
reconciliação – 2 Coríntios 5). Assim o corpo (como em Romanos 11) é uma só
arvore formada por ramos naturais e enxertados, mas a raiz que nutre o tronco e
os galhos é uma só, Cristo!)
Então novamente citamos 1 Coríntios 10 onde
Paulo exorta a todos a que não sejam pedra de tropeço para gentios, judeus e à
igreja de Deus. Nesse momento, sem dar ênfase ao que é o tropeço, vãos ater à
divisão:
1 - Os gentios (também conotativamente
chamados de “gregos”) no contexto época da escrita da epistola eram os perdidos
(as nações sem Cristo) conforme Efésios 2.
2 - Os judeus no mesmo contexto eram (para si
mesmos) os detentores “de Deus” que, por meio da lei e dos cerimoniais, se
consideravam ainda os únicos que se relacionavam com o Deus de Abraão.
Mas, o que diz a Palavra de Deus? ...Porquanto Deus colocou todos debaixo da mesma desobediência (pecado) a fim de usar de misericórdia para com todos. Romanos 11.
E: ...Estamos nós em posição de vantagem? Não!
Pois já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão todos subjugados
pelo pecado. Romanos 3.
3 – A igreja de Deus. A igreja é o mistério
revelado, oculto através dos séculos. Unindo todos num só corpo, a partir da
redenção pelo sangue. Agora não há nação, não há povo, não há denominação.
Todos formam o único corpo.
Conclusão: O que Deus vê? Ele vê apenas dois
grupos e apenas uma linha que os divide: Pecadores e Redimidos separados pela
linha do arrependimento.
E o que acontece com a igreja contemporânea?
Ela tropeçou; polarizou-se dentro de si mesma! Dividiu-se ainda mais! Agora ela procura os próprios bodes dentro de si mesma para coloca-los “a esquerda” separando-os das ovelhas (antecipando por conta própria aquilo que Jesus disse que fará)! Mas tornou-se difícil identificar ovelhas e bodes...olhamos para a direita onde só deveria haver ovelhas e encontramos bodes ali; depois olhamos para a esquerda e vemos que há também ovelhas... quase sempre atentas a um retângulo preto (nem sempre preto) de cores vivas; e outros “feeds”; adicionando novos “followers” e dando “unfollow” em outros.
Nada contra a modernidade. Conquanto ela não tente impor “up grade” ao evangelho, estará tudo bem! A rede social destruiu muitos
dos nossos filtros; amansou o bode e tornou arredia a ovelha – confundiu ainda
mais o que parecia ser lã! Caso o animal berre e mostre alguma resistência à
tosquia não dá para tosquiá-lo; não há lã nele!
... e os que usam deste mundo, como se dele
não usassem em absoluto, porque a aparência deste mundo passa (1 Coríntios 7).
A igreja dentro da igreja; hiper-judeus dentre os judeus comuns; gregos troianos dentre os espartanos, mas todos helenistas; cristãos ao quadrado e cristãos ao cubo.
E Paulo não deixou de exortar sobre o perigo
da autodenominação: “Eu sou de Paulo; eu, de Apolo, eu, de Cefas e outros de
Cristo” Paulo pergunta: Está Cristo dividido? Não! Mas algo novo e preocupante
aconteceu; a divisão que era alimentada pelos usos e costumes e pela linha
pentecostal ou tradicional, agora é política e avivada com o “fervor”
(político).
Essa não deveria ser a luta da carne contra a
carne nem do sangue contra o sangue; é luta contra os principados e
potestades...que tem um só objetivo – matar, roubar e destruir o homem que Deus
criou! Lembramos do livro de Juízes, nos últimos capítulos, a narrativa da
guerra das tribos de Israel, a tribo de Benjamim quase foi extinta pelos
próprios irmãos.
A igreja está procurando as
hostes e principados do mal dentro de si mesma. Não digo que ela não vai
encontrar nada; ela vai encontrar algo sim. O problema nasce na disposição (politica)
e na motivação (também) da guerra interna que se travou. Até os mais mansos
aprenderam a rugir rapidamente. As armas e lanças de Golias foram tiradas do
descanso...para matar irmãos! De um lado, os de “Paulo” contra os de “Apolo”,
de outro, os de “Cefas” que lutam com todos...Para que os “filisteus” não passem
para dentro do tabernáculo santo. É um combate ao “deus Dagom” contemporâneo. O
maior problema é que ficou difícil identificar os que são “de Cristo”. Quando
Paulo teve a beira de ser estraçalhado por fariseus e saduceus, ele usou uma
estratégia para dividir os opositores – ele falou da esperança da ressurreição
– que concorda com a fé farisaica, mas não com a “fé” dos saduceus; então, o que
já estava em confusão ficou fora de controle porque fariseus e saduceus se
dividiram, passando os primeiros para o lado de Paulo. Atos 23 é uma mostra de como
os sábios e os poderosos caem diante de um (um só) homem de Deus. Era um fariseu sofrendo ataque de vários fariseus
em sociedade com saduceus! Eram irmãos contra um irmão. (Particularmente acho
que a doutrina dos nicolaítas mencionados em Apocalipse, era próxima a doutrina
dos saduceus, ou seja, negam a ressurreição) Apesar de tudo, o final foi bom para
Paulo, ele não foi morto.
Mas hoje; não enxergamos à
frente uma colheita boa do que já está bem plantado e sendo regado dentro da
igreja. Independente de um fariseu ou saduceu abrir mão do que defende, o caos
já está instaurado.
O comunismo é apenas um braço,
ou um dedinho do mal. Embora seja uma metáfora, pode se dizer que aos olhos da
igreja esse dedinho tornou-se nos dois fêmures, o maior ou o único mal a ser
combatido, começando pelos irmãos. E o que vai acontecer na manhã seguinte ao
grande dia, ninguém sabe!
Fazendo outra analogia:
No caminho de Emaús (Lucas 24)
dois discípulos caminhavam desolados e confusos. No entendimento deles, tudo
tinha ruído na morte de Jesus; a fé, a esperança e amor...tudo se desfizera.
...nós esperávamos que fosse ele
que havia de redimir a Israel (e era mesmo) mas depois de tudo isso, é já o
terceiro dia desde que tais coisas aconteceram
Jesus estava “morto” e, com ele,
morreu a esperança de muitos. Eles só não sabiam que estavam falando com o
próprio Jesus.
E hoje? Como estão nossas: Fé,
esperança, amor e percepção da revelação do Filho de Deus presente entre
nós? O foco e o entendimento deles
estavam fora de sintonia com aquilo que aprenderam do mestre ao longo de três
anos. Poderíamos abrandar e dizer assim: “Foi o próprio Jesus que os impediu de
reconhece-lo! De fato, foi Jesus, mas apenas impediu de reconhece-lo
fisicamente, sem plantar neles medo, desanimo e confusão...apenas limitou os
olhos físicos naquela fração de tempo. E logo em seguida permitiu que o
reconhecessem. Mas eles já tinham se declarado “culpados”.
“Ó
néscios e tardos de coração para crer tudo que os profetas disseram”
Isto aconteceu no dia seguinte à ressurreição.
Como estará o Brasil no dia
seguinte?
Será que teremos fechado
totalmente as portas da igreja para os “gregos” ou para os “judeus”?
E quanto ao que estão dentro?
Será possível restaurar o vínculo da paz e avanço do proposito que são únicos?
– Salvar os perdidos, levando-os a conhecer o Deus de toda a verdade? Voltar à
normalidade; fazendo o papel da igreja acolhedora, intercessora, casa do pão e
casa de Deus... casa de oração! (?)
Contra quem lutamos nesses
meses? (verbo no passado)! Contra quem lutamos nesta vida? (verbo no presente)!
Os que se embriagam, é de noite
que se embriagam! (1 Tessalonicenses 5) Nós não somos da noite, nem das
trevas... A ressaca vem pela manhã, quando perguntaremos:
O que aconteceu ontem à noite?
Sim! Conhecereis a Verdade (que é Cristo) e a Verdade (que é Cristo) vos libertará! Não dos filisteus, mas dos próprios pecados de cada um (João 8).
A partir do dia seguinte ao
grande dia, os “gregos” terão entendido errado: (graças à igreja) Que não há
lugar para eles ali... (graças à igreja). E a igreja voltará a pregar com aquela
frase curta: Jesus te ama!
Eis aqui o meu servo (Cristo, o filho), a quem sustenho; o meu escolhido (Cristo, o filho), em quem (em Cristo) se compraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele. ele trará justiça às nações. Isaias 42