O CRENTE CARNAL
(Trecho do livro "O homem espiritual" de Watchaman Nee)
O
Senhor Jesus, ao ir à cruz, levou sobre si não só nossos pecados, mas também
nossos seres. Paulo enunciou este fato ao proclamar «que nosso velho homem foi
crucificado com ele». O verbo «crucificado», no original, está em tempo aoristo*, o qual denota que nosso velho homem foi uma vez
e para sempre crucificado com Ele. Como a cruz de Cristo é um fato consumado,
assim também nosso ser crucificado com Ele é também um fato consumado.
* aoristo – grego — tempo verbal que exprime a ação pura e simples sem que dele, se cogite duração ou acabamento. O aoristo indicativo exprime um fato passado, do qual a duração breve ou longa não tem nenhum interesse para o sujeito falante. Em realidade, ao empregar o aoristo o sujeito falante objetiva apenas a ação em si mesma, sem lhe importar o grau de acabamento. (Nota da tradutora)
Apropriação:
Em
Deus nossa carne já foi crucificada
Temos
que nos apropriar deixando o Espírito Santo fazer isto ser uma experiencia
visível e exterior.
Em
Deus nós morremos com Cristo para com ele ser ressuscitados.
Temos
que nos apropriar deixando o Espírito Santo fazer isto ser experiencia visível e exterior
Como Paulo, todos os crentes poderiam ser cheios com o Espírito Santo no momento de acreditar e no batismo (comparar Atos 9:17, 18).
Por desgraça, muitos ainda estão controlados pela carne como se não tivessem morrido e ressuscitado.
Estes não acreditaram de verdade no fato consumado da morte e a ressurreição de Cristo por eles, nem obraram sinceramente segundo a chamada do Espírito Santo a seguir o princípio da morte e da ressurreição. Segundo a obra consumada de Cristo já morreram e foram ressuscitados, e segundo sua responsabilidade como crentes deveriam morrer ao eu e viver para Deus, mas na prática não o fazem. Estes crentes podem ser considerados anormais. Sem dúvida, não devemos pensar que esta anormalidade é exclusiva de nosso tempo. Faz muitíssimo tempo o apóstolo Paulo se encontrou em uma situação semelhante entre crentes. Os cristãos de Corinto eram um exemplo. Ouçam o que lhes disse: “E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Leite vos dei por alimento, e não comida sólida, porque não a podíeis suportar; nem ainda agora podeis; porquanto ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja e contendas, não sois porventura carnais, e não estais andando segundo os homens?” (1Corintios 3:1-3).
Aqui o apóstolo divide a todos os cristãos em duas classes: os
espirituais e os carnais. Os cristãos espirituais não têm nada de
extraordinário: são simplesmente normais. São os carnais os que saem do normal,
os que são anormais. Os de Corinto eram deveras cristãos, mas eram carnais, não
espirituais. Nesse capítulo Paulo afirma três vezes que eram homens carnais.
Pela sabedoria recebida do Espírito Santo, o apóstolo compreendia que tinha que
identificá-los antes de poder lhes oferecer a mensagem que necessitavam. A
regeneração bíblica é um nascimento pelo qual a parte mais íntima do ser do homem,
o espírito, profundamente oculto, é renovado e habitado pelo Espírito de Deus.
Tem que passar um tempo até que o poder desta nova vida alcance o exterior: ou
seja, até que se estenda do centro até a circunferência. Por isso não podemos
esperar encontrá-lo forte nos jovens nem a experiência dos pais, manifestadas
na vida de um bebê em Cristo. Embora um crente recentemente nascido possa
comportar-se fielmente, amando ao Senhor e distinguindo-se com seu zelo, ainda
necessita tempo para ter ocasião de saber mais da maldade do pecado e do eu e
para saber mais da vontade de Deus e dos caminhos do Espírito. Por muito que
possa amar ao Senhor ou amar à verdade, este novo crente ainda anda no mundo
dos sentimentos e dos pensamentos e ainda não foi provado nem refinado com
fogo. Um cristão recém-nascido não pode evitar ser carnal. Embora esteja cheio
do Espírito Santo, mesmo assim não conhece a carne. Como pode alguém ser
libertado das obras da carne se não reconhecer que essas obras nascem da carne?
Por isso, considerando sua autêntica condição, os cristãos que são crianças
recém-nascidas são em geral da carne.
A Bíblia não espera que os novos cristãos sejam espirituais
instantaneamente, mas se depois de muitos anos continuam sendo crianças, então
sua situação é verdadeiramente muito lamentável. Paulo mesmo diz aos coríntios
que, no princípio, os tinha tratado como homens da carne porque eram meninos
recém-nascidos em Cristo e que agora —
quando lhes escrevia — deveriam ser já adultos. Em vez
disso, tinham esbanjado suas vidas, continuavam sendo meninos e por isso ainda
eram carnais. Para ser transformado de carnal a espiritual não é necessário
tanto tempo como pensamos atualmente. Os crentes de Corinto procediam de um
ambiente pagão categoricamente pecaminoso. Ao fim de uns poucos anos o apóstolo
já via que tinham sido meninos por muito tempo. Tinham estado muito tempo na
carne, porque então já tinham que ser espirituais. O propósito da redenção de
Cristo é eliminar tudo o que obstaculize o controle do Espírito Santo sobre
toda a pessoa para que desse modo possa ser espiritual. Esta redenção não pode
falhar jamais porque o poder do Espírito Santo é superabundante. Da mesma
maneira que um pecador carnal pode converter-se em um crente regenerado, um
crente regenerado, mas carnal pode ser transformado em um homem espiritual. O
que é lamentável é encontrar cristãos que não realizaram nenhum progresso em
sua vida espiritual ao longo de vários anos e até décadas! E estes mesmos se
assombram quando encontram alguém que, ao fim de uns anos, empreende uma vida
do espírito.